Sunday, 31 August 2008
Comédia da vida privada
E falavamos sobre o que mesmo no chá da tarde no SPRÜNGLI ? Ah! Ainda sobre o silêncio suíço. Para minha eterna admiração descubro que é proibido dar descarga ou tomar banho depois das 23h00. A diferença de hábitos entre os povos é surpreendente.
Tivemos um tipico dia de inverno, chuvoso, mas ainda estamos no verão. A noite chega. Meu anfitrião serve uma deliciosa sopa e de sobremesa uma maravilhosa torta de chocolate feita pela anfitriã. Cozinham muito bem!!! Nem posso retribuir lavando a louça porque a máquina faz as honras da casa, apenas recolho os pratos.
Horas passadas, os anfitriões se recolhem e eu ainda sem sono. Sinto um incontrolável desejo de ir ao banheiro. Imediatamente sou tomada pela angústia. Lembro-me da converso no café e sinto vontade de estar em qualquer outra parte do mundo depois das onze da noite, menos na Suíça.
Não me deixo abater, sei que tenho controle emocional suficiente para sair de situações difíceis, uma boa oportunidade para testa-lo. Vou ao banheiro e olho fixamente a patente, que é como minha anfitriã gaúcha chama a privada, tenho uma idéia! Vou até a cozinha pegar um balde. Basta enchê-lo de água e jogar na patente, assim evito o “barulho” da descarga e me mantenho dentro da lei.
Não acredito! Meus anfitriões estão dormindo com a porta do quarto aberta. A cozinha é americana e se eu acender a luz vou acorda-los. Procurar o balde no escuro produziria mais barulho do que a descarga. Operação abortada. Volto ao banheiro. Olho fixamente a patente esperando que dela venha alguma idéia. Shit! Tudo que sinto é um desejo incontrolável de me entregar a ela. Mas não me apetece a idéia de deixar para o dia seguinte, boiando, os vestígios da noite anterior...
De repente um barulho. Salva pelo gongo. Em um outro apartamente, acima do nosso, alguém infringindo a lei. Uma descarga acabara de ser acionada. O alívio foi imediato, eu que a pouco estava enfezada com aquela situação, relaxei. A natureza pode enfim respeitar o relógio biológico. Me recompus, apertei a descarga sem culpa...e quer saber? Estou cagando pro silêncio suíço.
Desfazendo equívocos
No dia seguinte, conversando com um suíço, que fala português of course!, quis entender melhor essa lei. Quando questionado sobre, ele apenas riu, riu muito. Assim como rimos quando nos perguntam se nos locomovemos por cipós, se a capital do Brasil é Buenos Aires, se andamos de tanga e que toda mulher brasileira é “fácil”. Riu descortinando meu olhar superficial de viajante, de estrangeira. Riu mostrando que a “gringa” aqui sou eu.
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