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Sunday, 31 August 2008


TIREI
FOTO!



Comédia da vida privada

imagem: Gustavo Ferri


E falavamos sobre o que mesmo no chá da tarde no SPRÜNGLI ? Ah! Ainda sobre o silêncio suíço. Para minha eterna admiração descubro que é proibido dar descarga ou tomar banho depois das 23h00. A diferença de hábitos entre os povos é surpreendente.


Tivemos um tipico dia de inverno, chuvoso, mas ainda estamos no verão. A noite chega. Meu anfitrião serve uma deliciosa sopa e de sobremesa uma maravilhosa torta de chocolate feita pela anfitriã. Cozinham muito bem!!! Nem posso retribuir lavando a louça porque a máquina faz as honras da casa, apenas recolho os pratos.


Horas passadas, os anfitriões se recolhem e eu ainda sem sono. Sinto um incontrolável desejo de ir ao banheiro. Imediatamente sou tomada pela angústia. Lembro-me da converso no café e sinto vontade de estar em qualquer outra parte do mundo depois das onze da noite, menos na Suíça.
Não me deixo abater, sei que tenho controle emocional suficiente para sair de situações difíceis, uma boa oportunidade para testa-lo. Vou ao banheiro e olho fixamente a patente, que é como minha anfitriã gaúcha chama a privada, tenho uma idéia! Vou até a cozinha pegar um balde. Basta enchê-lo de água e jogar na patente, assim evito o “barulho” da descarga e me mantenho dentro da lei.


Não acredito! Meus anfitriões estão dormindo com a porta do quarto aberta. A cozinha é americana e se eu acender a luz vou acorda-los. Procurar o balde no escuro produziria mais barulho do que a descarga. Operação abortada. Volto ao banheiro. Olho fixamente a patente esperando que dela venha alguma idéia. Shit! Tudo que sinto é um desejo incontrolável de me entregar a ela. Mas não me apetece a idéia de deixar para o dia seguinte, boiando, os vestígios da noite anterior...
De repente um barulho. Salva pelo gongo. Em um outro apartamente, acima do nosso, alguém infringindo a lei. Uma descarga acabara de ser acionada. O alívio foi imediato, eu que a pouco estava enfezada com aquela situação, relaxei. A natureza pode enfim respeitar o relógio biológico. Me recompus, apertei a descarga sem culpa...e quer saber? Estou cagando pro silêncio suíço.


Desfazendo equívocos
No dia seguinte, conversando com um suíço, que fala português of course!, quis entender melhor essa lei. Quando questionado sobre, ele apenas riu, riu muito. Assim como rimos quando nos perguntam se nos locomovemos por cipós, se a capital do Brasil é Buenos Aires, se andamos de tanga e que toda mulher brasileira é “fácil”. Riu descortinando meu olhar superficial de viajante, de estrangeira. Riu mostrando que a “gringa” aqui sou eu.

Wednesday, 27 August 2008

Brasileira tipo exportação


foto: Clube da Luluzinha Brasileira

Eu estou em “dromus”, que posso traduzir como estou em marcha, em curso.
Antes de iniciar meu estudo na Inglaterra sobre dramaturgia fiz uma escala na Suíça para visitar uma amiga brasileira, que não é prostituta.


Explico: assim como no século passado as polacas, que entravam no Brasil, faziam da prostituição profissão, o mesmo acontece aqui com boa parte das brasileiras. Vindas ou trazidas, as brasileiras tipo exportação, oferecem “o que há de melhor no Brasil”, nosso calor humano, que aqui pode ser traduzido de várias formas. Depois de algum tempo algumas conseguem a tão sonhada promoção, casam-se com suíços. Isto proporciona status aqui e no Brasil.


Quando falava da minha viagem à Europa, ouvia frequentemente: “boa sorte. Quem sabe você consiga um inglês para casar”.


Quando o que eu queria ouvir era: “bom trabalho, que as portas se abram ainda mais”.


Quando viajava para o nordeste nunca ninguém me desejou: “se acaba lá, e volta casada com algum moreno delícia”.


Talvez porque um nativo não seja um bom negócio, não me daria um futuro decente. Já um gringo é a garantia da terra prometida, a salvação para uma mulher latino americana, sem falar que o casamento é o melhor investimento que uma mulher pode fazer. Os preconceitos que eles têm sobre nós, talvez sejam os mesmos que nós temos e sob os quais construímos nossa própria imagem.


Ao entrar na Suíça, embora tenha sido muito bem tratada, apresentei carta convite dos meus amigos que moram aqui, disse quanto tempo ficaria...Inspeção de rotina. Perguntei ao simpático moço, que deve ser da imigração, se sempre era assim com brasileiros, e ele com um sorriso amável respondeu balançando a cabeça afirmativamente.




O bêbado e o motorista


Eram aproximadamente 11h00 da noite. Voltávamos do cinema. O TRAM pára (em Zurich é desnecessário dar sinal, o TRAM pára em todos os pontos). Dentro dele havia algo no chão impedindo a passagem, ou melhor, alguém. Sim. Um homem de aproximadamente quarenta anos. Ao seu lado uma mochila e uma garrafa de alguma bebida que certamente não era água. Todo o TRAM estava impregnado do cheiro dele. Ele murmurava algo, e ainda que falasse alto eu não conseguiria entender seu suiço-alemão.

Como desconheço sua identidade e não acho cortês defini-lo pela quantidade de álcool que havia ingerido naquele dia, o chamarei de Mister Milk, aproveitando para fazer uma referência à Suíça, que é conhecida também pelo seu leite.

Meu olhar de viajante foi sendo surpreendido a cada novo acontecimento.

Acontecimento 1: Um dos passageiros se levanta, vai até Mister Milk, pega-o pelo braço. Com todo cuidado do mundo tenta ajuda-lo a retornar aquele que deveria ser seu assento. Mister Milk olha para o gentil cavalheiro e parece não entender o que ele deseja, resmunga algo e permanece deitado no chão.

Acontecimento 2: O cavalheiro é demovido da idéia de resgatar Mister Milk pelo motorista do TRAM, que assistia tudo de sua cabine. O motorista compadeceu-se do gentil homem, parou o TRAM e informou que já havia avisado a polícia. Nesse momento uma suave indignação* toma conta de mim, olho com antipatia para o motorista. OK, Mister Milk tem um cheiro insuportável, está obstruindo uma das entradas, mas chamar a polícia!!!!! ? ? ? Não é para tanto!!!

Acontecimento 3: O TRAM pára novamente. Entram dois policiais. Olham para Mister Milk e falam algo. Fico tensa. Não esperava que meu primeiro passeio em Zurich terminasse com uma cena dessas. Um dos policiais retira do bolso uma luva de borracha e a calça. Em seguida pega Mister Milk pelo braço. O que vejo “desprogramou completamente meu sistema”. Sem truculência, sem falar alto, sem projetar o peito para fora, com um misto de delicadeza e cortesia, o policial encaminha Mister Milk para fora. Pelo que ouvi dizer, nosso protagonista seria levado para um abrigo. Mas programação é programação e não pude deixar de pensar: longe dos nossos olhares o pau vai comer.


Estou só há dois dias fora do Brasil, pouco tempo para realmente acreditar que as coisas podem ser diferentes.

*suave indignação é quando você não concorda com algo, mas não diz absolutamente um A para modificar o que o desagrada


SUAVE INDIGNAÇÃO