Sunday, 7 September 2008

ELA é brasileira - SHE is brazilian















ELA secava a louça, e sem mais interrompeu o silêncio da sua ação inquirindo-me:
- O que precisa para ser prefeita?
Acho que minha expressão de “hein?” não lhe deixou dúvidas e ELA se adiantou:
- Precisa fazer algum curso? – meio desconsertada com a pergunta que não entendia muito bem de onde vinha respondi:
- Não necessariamente. O partido deve fazer eleições internas para escolher seu candidato. Não precisa ter nível superior...
- Assim como o Lula.
- É. Como o Lula.
ELA continuou secando a louça, só que agora ainda mais imersa em seus pensamentos.
Achei melhor não perguntar nada. ELA precisava daquele tempo para elaborar suas idéias.
No dia seguinte, eu e ELA, fomos juntas à Brixton. Enquanto meu olhar de recém chegada apreciava a paisagem do primeiro andar do ônibus londrino, ELA pensava. Novamente ELA cortou o silêncio, só que dessa vez não com uma pergunta:
- Se eu fosse prefeita no Brasil, eu acabaria com as favelas e criança não pagaria ônibus, assim como em Londres, porque criança não trabalha...
Entendi a pergunta da noite anterior. “Criança não trabalha aqui, mas no Brasil trabalha, é um indivíduo economicamente ativo, infelizmente”, pensei em lhe dizer, mas preferi continuar escutando .
ELA tem 14 anos e está fora do Brasil há três. É a terceira filha de uma família de cinco irmãos e uma das melhores alunas do colégio em que estuda. Aqui ajuda a família como interprete, pois seus pais não falam inglês, e como a maioria dos brasileiros que aqui estão, vieram em busca de melhores condições de vida e não pensam em voltar tão cedo, porque acreditam que aqui os filhos terão mais chances.
Se ELA ainda morasse em sua terra natal, estaria vivendo em São Matheus, zona leste. Pegando ônibus e trem super lotados - e pagando por isso! - estudando em escola pública, como em Londres, mas neste caso faz diferença significante o que é público aqui do que é lá.
ELA em algumas outras ocasiões mostrou interesse por assuntos políticos e diz não se conformar com as pessoas que não pensam nesses assuntos e só querem se divertir.
ELA sabe que o jardim do Brasil é tão fértil quanto o da Inglaterra, mas aqui ELA recebeu ferramentas e está aprendendo a usar, o que também faz uma diferença significante.
Infelizmente não votarei nas eleições municipais, pois estou em Londres com visto de turista, mas se pudesse, certamente votaria n´ELA.
ENGLISH
SHE was drying the dishes, and out of the blue she interrupted the silence of her chore by enquiring:
- What do you need to become mayor?
I think that the "eh?" painted on my face was pretty self-explanatory and SHE came closer:
- Do you need to take a course of some kind? – thrown off by the question since I did not know exactly where it came from, I answered:
- Not necessarily. The party needs to perform internal elections to choose its candidate. You don’t need to have a university degree…
- Just like Lula?
- Exactly. Like Lula.
SHE continued to dry the dishes, only now even more immersed in her thoughts. I thought it best not to ask anything. SHE needed the time to elaborate her ideas. The next day, SHE and I went together to Brixton. Whilst my gaze, as a new arrival, appreciated the landscape from the upper deck of the London bus, SHE was deep in thought. Once again SHE cut the silence, but this time not with a question:
- If I were mayor in Brazil, I would put an end the shanty towns and children would not pay bus fares, just like in London, because children do not work... Now I understood the question from the previous night. "Children do not work here, but in Brazil they work, as they are economically active individuals, unfortunately", I thought to tell her, but decided it was better to continue listening. SHE is 14 years old and has been outside of Brazil for three. She is the third daughter of a family of five siblings and one of the best students at the college where she is studying. Here she helps the family as an interpreter, since her parents do not speak English, and like the majority of Brazilians here, they came in search of better living conditions and are not thinking of going back any time soon, because here they believe that the kids will have more opportunities. If SHE still lived in her birthplace, she would be living in Saint Matheus, in the east zone. Catching crammed buses and trains - and paying for it! - studying in a public school, like in London, however there’s a significant difference between what’s public here and there. On various occasions, she has shown interest in political matters and does not get along with people that do not consider those matters and just want to enjoy themselves. SHE knows that Brazil’s garden is just as fertile as England’s, but here SHE has gained tools and is learning how to use them, which also makes a significant difference. Unfortunately I will not vote in the municipal elections, I am in London, but if I could, I would surely vote for HER.

1 comment:

  1. Adorei o blog!
    Vou visitar sempre pra apresner um pouco sobre essa cidade que ainda quero conhecer.
    beijo!

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