Thursday, 27 August 2009

quando nascemos...

DRUMMOND
POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra


Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens


Que correm atrás de mulheres.


A tarde talvez fosse azul,


Não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:


Pernas brancas pretas amarelas.


Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.


Porém meus olhos


Não perguntam nada.


O homem atrás do bigode


É sério, simples e forte.


Quase não conversa.


Tem poucos, raros amigos


O homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste


Se sabias que eu não era Deus


Se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo,


Se eu me chamasse Raimundo


Seria uma rima, não seria uma solução.


Mundo mundo vasto mundo,


Mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer


Mas essa lua


Mas esse conhaque


Botam a gente comovido como o diabo.



ADÉLIA PRADO
COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.


Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.


Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.


Não sou tão feia que não possa casar,


acho o Rio de Janeiro uma beleza e


ora sim, ora não, creio em parto sem dor.


Mas o que sinto escrevo.


Cumpro a sina.


Inauguro linhagens, fundo reinos


- dor não é amargura.


Minha tristeza não tem pedigree,


já a minha vontade da alegria,


sua raiz vai ao meu mil avô.


Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.


Mulher é desdobrável.


Eu sou.




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