Friday, 28 August 2009

Seu Fish


Seu Fish
É pessoa inteligente, culta
Acostumada a viver só
Mas Seu Fish também quer companhia
Revoga sua decisão
E permite a divisão do espaço da escova de dente no banheiro

Seu Fish dá a chave da casa,
Permite a entrada do outro
Mas como um bom locatário
Apresenta as condições.

Para a outra pessoa:

Mude de casa
De post code
De itinerário

Mude de profissão
Mude seu meio de locomoção

Mude hábitos
Conheça meus amigos
Circule por entre os meus

Estabeleça novas metas
Sonhe outros sonhos
Para estar comigo

Seu Fish
Desconsidera o “andar ao lado”
O outro que venha atrás,
Que se beneficie da sombra que Seu Fish produz.

Mas o outro não tem medo de insolação,
Quer o sol queimando na pele também.
O outro também quer deixar rastro
Sentir a poeira do caminho escolhido
Engolir a água do mar desejado

O outro quer dizer a Seu Fish
Que o mundo é bem maior
Do que o seu quadrado

E Galileo já dizia: Ele é redondo.

Thursday, 27 August 2009

quando nascemos...

DRUMMOND
POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra


Disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens


Que correm atrás de mulheres.


A tarde talvez fosse azul,


Não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:


Pernas brancas pretas amarelas.


Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.


Porém meus olhos


Não perguntam nada.


O homem atrás do bigode


É sério, simples e forte.


Quase não conversa.


Tem poucos, raros amigos


O homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste


Se sabias que eu não era Deus


Se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo,


Se eu me chamasse Raimundo


Seria uma rima, não seria uma solução.


Mundo mundo vasto mundo,


Mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer


Mas essa lua


Mas esse conhaque


Botam a gente comovido como o diabo.



ADÉLIA PRADO
COM LICENÇA POÉTICA

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.


Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.


Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.


Não sou tão feia que não possa casar,


acho o Rio de Janeiro uma beleza e


ora sim, ora não, creio em parto sem dor.


Mas o que sinto escrevo.


Cumpro a sina.


Inauguro linhagens, fundo reinos


- dor não é amargura.


Minha tristeza não tem pedigree,


já a minha vontade da alegria,


sua raiz vai ao meu mil avô.


Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.


Mulher é desdobrável.


Eu sou.




Friday, 21 August 2009

Temperamento de mulher




Saiu do quarto gritando
Desceu a escada
Chegou na sala gritando
Abriu a porta, correndo saiu.
Na rua gritando,
Barulho de carro,
Ninguém ouviu.
Gritando pela avenida,
Gritando pelo quarteirão,
Gritando pela vida.
Chuva caindo
Molhou seu rosto
Pôde chorar
Sem revelar a lágrima
Chuva escorrendo na face.
Gritou até não mais escutar.
Correu, correu até voltar para o mesmo lugar.
Abriu a porta,
Entrou na sala,
Subiu escada
Fechou o quarto
Silêncio
Só depois do grito
Se pode calar.
Como é bom
Ter para onde voltar.

Thursday, 20 August 2009

rubro chão, rubro caminho

Ai que torceu, torceu
pingou vermelho
doeu.
Esparramou,
lágrima represou no olhar
petrificou.
o que era doce
salgou.
ai que torceu, torceu
estendeu mas não secou
continuou pingando vermelho
rubro chão
rubro caminho
segue, apresse
não adianta
sozinho.
ai que torceu, torceu
segurou respiração para não sentir
no adiantado das horas
não dá para distinguir
mistura gozo com dor
mistura amor com saudade
mistura choro com alegria
mistura, mistura
não consegue separar
mas juntos não estamos
torcer, torcer
pra parar de pingar
lágrima represou o olhar.