Monday, 2 February 2009

França das tradições











Para falar da França poderia começar com todos os pré-conceitos, uma vez que a maioria deles todos já ouvimos ao menos uma vez.

Mas escreverei não sobre a França que me apresentaram (para não dizer preveniram) antes da minha viagem, falarei sobre a França revelada pelos franceses.

Sem falar a língua local (so sorry! - quero dizer – pardon!) iniciava meu contato com um timido “Je ne parle pas français”. Eles então sorriam e tentavam estabelecer a comunicação da melhor forma possível, uma língua comum para ambos, mímica, ajuda dos universitários...

Sim. Eles aceitavam a comunicação sem impor sua língua. Por vezes até sentiam-se constrangidos por não falarem inglês – a tal da língua “universal”.

Sim. Os franceses que conheci não negam sua latinidade. Falam muito, gesticulam, riem alto.

Oui, eles beijam-se e acariciam-se publicamente e se enervam também, de uma forma que só os franceses são capazes. Eles rodam a bahiana, só que com outro sotaque. Eles batem e não assopram.

Não, eles não abrançam. Não podemos esquecer que eles também fazem parte da comunidade européia. Abraçar por essas bandas parece ser algo intimo demais, atribuido apenas aos amantes na alcova.

Não. Eles não são iguais. Os de Marseille, onde estive por dez dias, se dizem muito mais calorosos do que os de Paris, onde estive apenas por dois dias. Um despeito interestadual, algo como Rio e São Paulo...”reserva de mercado” não justificada. Afinal, no passaporte são todos franceses. Afinal as diferenças não fazem com que um seja necessariamente melhor ou pior que o outro. Uns têm sol e porto, outros têm torre e Monalisa.

Despeço-me de Marseille, de uma forma diferente da que fui recebida. Minha anfitriã acompanha-me à estação e fica comigo até a partida do trem, numa manhã fria e recheada de imprevistos. Quase Natal.

Vou ao encontro de minha outra anfitriã - esta radicada no Brasil, praticamente uma brasileira - que me apresentará a região de Chambon, das montanhas, das tradições. Somos recebidas por longas tranças prateadas. Participo de um Natal em família. Entramos numa região de contos. Tudo tem uma história – o vinho, as treze sobremesas, a Champanhe (e tenham respeito por ela), a casa ao lado, os quadros na parede, o banquinho que esperava por um piano que um dia chegou, as taças que esperavam por um bar da sala que espera por uma calefação que funcione. As longas tranças prateadas talvez guardem, em cada fio, as histórias mais preciosas. As longas tranças incansáveis. As longas e atenciosas tranças prateadas que nomeou-me Madame Vaisselle após reconhecer meu potencial na cozinha.

E é nessa região que encontro dois pequenos, que mais interessados estão em ouvir histórias que em conta-las, e se elas vêem de terras distantes, como o Brasil, ainda melhor. Esta é uma palavra mágica para eles. Minha anfitriã criou no imaginário dos pequenos um universo mágico chamado Brasil, com florestas e seres dignos de quadrinhos, onde o sol se esconde quando despede-se de lá.

E foi a França que me apresentou a neve. Sou acordada com o olhar curioso da casa e a expectativa ante minha reação. A neve quando pisada faz “scronch”. A neve que não vi quando criança, da qual só soube da existência através dos filmes norte-americanos trouxe nostalgia e junto com ela SAUDADE. Não era vontade de estar longe de lá, mas de estar perto de todos e que todos estivessem lá também. A neve não nos congela, a indiferença sim. E naquele lugar nada é indiferente.

No Reveillon todas as pessoas que conheci na vila reuniram-se em uma única casa, casa de “marseilleises”. Todos os convidados ofereceram um prato para a ceia e fui intimada a levar uma sobremesa típica brasileira: brigadeiro (?????!!!!!!!!)

Para minha supresa brigadeiro não é um doce universal, não faz parte da infância de todas as crianças do planeta. Uns têm neve, outros brigadeiro.

Para surpresa deles, nós usamos branco.
Para minha surpresa não há abraços após as doze badaladas, mas três beijos no rosto. Para surpresa deles, nós pulamos ondinhas.
Para minha surpresa nenhum estouro de rojão...apenas o ruído da Champanhe sendo aberta.
E a noite termina com todos sentados em frente à lareira, tomando café.

Não há música, não apenas para minha surpresa, pois a longa trança prateada confidencia-me “festa sem música, não é festa”. Concordo com ela, sorrimos com cumplicidade. Para nós a noite terminou. Voltamos para casa, com lanternas em punhos num ano que já é outro. Na primeira manhã de 2009 – SOL!!!!
Obrigada universo!!!!
Ele em harmonia perfeita com a neve que havia nos visitado no dia anterior.

Minha viagem à Provance está quase no fim. Separo-ro de minha anfitriã, eu em direção à Paris e ela a caminho da Índia.

Sou levada à estação de trem pelo poeta socialista. Ele falou durante todo o trajeto. E eu compreendi tudo. Eu sem falar francês, e ele sem falar português.

Em Paris sou recebida por uma vietnamita que conheci em Londres. Ela me recebe como uma brasileira receberia, vai me buscar na estação e à noite me leva a um restaurante tailandês. O amigo que a acompanha, e que trabalha como motorista, revelou que brasileiro tem fama de carregar grandes bagagens e não dar gorjeta.

No dia seguinte ela leva-me ao Louvre e à Torre Eiffel. Reitera a fama de que os franceses são indelicados. No metrô ela se surpreende com uma moça que lhe oferece um lenço. Não sabemos a nacionalidade dela. Prosseguimos.

A estada em Paris não foi o bastante para revelar Paris, mas, na manhã seguinte, indo para o aeroporto, assim que me aproximo da primeira escadaria do metrô, com minha grande mala de brasileira, uma moça se oferece para me ajudar. Dirijo-me ao guichê, despeço-me dela, compro meu bilhete e novamente outra escadaria. Um rapaz, mesmo apressado, ajuda-me a descê-la e ao final arremessa-se dentro do trem para não perde-lo. E a história se repete em outras escadarias até conseguir sair do metrô e livrar-me delas.

Esta foi minha experiência em Paris. Onde esconderam toda a indelicadeza francesa ainda não sei. Pessoas são diferentes em Marseille, em Paris, no Rio, em São Paulo, em Londres, mas continuam sendo pessoas.

Indo à França diga ao menos Merci!, por uma simples questão de gentileza.

E para os que acreditam que o inglês é a língua universal -so sorry1 - O sorriso é a língua universal. Gentileza gera gentileza.

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