Saturday, 28 February 2009

destino: LONDON


Noel Greig













todas as nacionalidades - all the cultures



Algumas grandes decisões em nossa vida são tomadas de uma hora para outra. E assim foi em relação a minha viagem à Londres. Não sei exatamente porquê tinha tanta curiosidade em conhecer estas terras, mas sabia que precisava estar lá em algum momento.

E foi assim de uma hora para outra. Em 1988 decidi: Eu vou. Em 2008 eu fui. Vinte anos se passaram desde a decisão à realização, “de uma hora para outra”, como muitos disseram. Não foram vinte anos maturando a idéia, nesse meio tempo vivi outros lugares, descobri outros territórios dentro do meu próprio país e ao descobri-los me apaixonava ainda mais pela possibilidade de andar descalça na areia, tomar água de coco e açaí na tigela, ter a pele morena rosa, ouvir o mar...naturalmente fui me distanciando do desejo de ver castelos, usar casacos pesados e viver entre recessivos (olhos claros, cabelo loiro, pele branca).

No entanto, se deu uma dessas coisas estranhas que acontecem sem explicação. Um inglês, um dramaturgo, Noel Greig, reaviva o antigo desejo e não o faz a distância, veio me cutucar em terras tupiniquins. E a decisão que tinha sido tomada há vinte anos enfim se concretizou.

Afinal o que VOCÊ vai fazer em Londres?
Afinal o que EU vim fazer em Londres?

Escrever.

Em que curso, onde é a escola, quanto tempo?

Curso? Escola? Tempo....

A matéria aqui é outra e a didática também. Se no Brasil, meu olhar acostumado, encontrava as histórias em esquinas, vilas, feiras, caminhos, amigos, desconhecidos...O que fazer com esse olhar numa cidade em que a mão é esquerda, e saber olhar para o lado certo ao atravessar a rua é uma questão de sobrevivência? Sem esquecer da escuta! A informação não vem trazida pelo vento já traduzida no bom e claro Português. E sabe- se lá em que língua essa informação pode chegar! A cada momento um idioma diferente. Aqui as histórias não chegam prontas. Não basta sentar e deixar que elas se contem, tenho que traduzi-las. E por vezes ela me é apresentada através de uma expressão fechada , um tom de voz mais elevado, um olhar perdido, uma garrafa vazia ao lado da menina desfalecida na calçada, do silêncio quando a situação pedia fala.

Londres definitivamente , para mim, não é uma cidade de paisagens. É uma cidade de humores, da convivência entre os muito diferentes, das desejadas “chegadas” e das infindáveis “partidas”. Dos enlaces que mal iniciam, esquivam-se do meio, evitando o fim, por vezes, inevitável.

Não é uma cidade fria, é uma cidade reservada, não diria discreta, pois a deselegância indiscreta de suas meninas não me permitiria fazê-lo. É uma cidade que não lhe oferecerá um abraço, mas deseja recebê-lo e sabe retribui-lo, à sua maneira.

Seu povo é gentil e solícito quando consegue notar a presença do outro, mas para tanto, é necessário deixar os tablóides repousados nos assentos do metrô e perceber a pessoa sentada no assento do metrô, logo ao lado, bem pertinho, respirando junto.

As pessoas em Londres não merecem o clima de Londres: céu cinza, a noite que começa às quatro da tarde, o sol que faz charme e se recusa a aparecer... As pessoas em Londres merecem luz, uma luz que ilumine os olhares, que possibilite enxergar a terra que ninguém vê, como bem sabe Cora.

As pessoas de Londres podem inspirar histórias mais coloridas, mas para existir cor, tem que haver mistura. Uma mistura que já acontece, timidamente, revelando alguns tons, mas que ainda guardam suas nuances.

WHAT HAPPENS NEXT - O QUE VEM DEPOIS...


QUE BOSSA É ESSA?

What bossa nova is this?
Are you crazy, gal?
Iansa has a temple here
and Baco is a manager of a chain of pubs
What bossa nova is this, girl?
You are in Ami’s house
And at 5 pm she serves wine in an English tea set
Here if you stare, sparks fly
If you touch, fire starts,
If it’s the real thing, It ices over,
It ices over, girl.
What bossa nova is this, gal?
Flip flops, cotton print dress
Like this, the girl is iced over
Is this bossa nova new?
five hours on msn
three more on facebook
“text” here is a verb
and "I’m think of you" never gets conjugated
Here everyone is learning the same language
everyone desperately trying to speak the same language
the girl on the underground speaks english but does not understand me
the boy with the jazz speaks portuguese and you don’t understand him
are we talking the same language?
Are we talking?
with what are you communicating?
with who are you communicating?
In which part of the world is your father?
and the belly which gave birth to you, where is it?
Do you have siblings here?
And has the love of your life already left?
Or didn´t arrive yet?
A Venezuelan girl said last week
"That this place is no good for too long.That this place drives you crazy"
Here “where are you from?” comes before “what’s your name?”
And “when do you go back?” comes soon after “how long have you been here?”
Just to not let you forget where you came from
And that at some point you’re going to have to leave, boy
That person with the "nice to you meet you" yesterday
Is leaving tomorrow
Is going to take the train because they live in Europe
Is going to take the plane because they have an ocean to cross
Is going to take a suitcase and still have to pay baggage excess
Even after leaving a load of things behind
What bossa nova is this?
That person with the “nice to meet you” yesterday
Is leaving, but taking you with them
And you, what are you taking?
London has big eyes
And it sees the world turning
And if they don’t come calling for me
I’m staying.
PORTUGUES
Que bossa e essa?
Tu ta loca guria?
Iansa aqui tem templo
E baco é maneger de um rede de pubs.
Que bossa é essa menina ?
Voce esta na casa da Ami
E as 5 ela serve vinho no jogo de chá ingles
Aqui se olhar sai faisca
se encostar pega fogo
e se for pra valer congela
congela menina.
que bossa é essa guria ?
sandalinha de dedo,
vestidinho de chita
assim a menina congela.
essa bossa é nova?
cinco horas no msn
mais três no facebook
text aqui é verbo
e “eu penso em você” não se conjulga.
aqui está todo mundo aprendendo a mesma lingua
todo mundo desesperado tentando falar a mesma lingua.
a menina do underground fala ingles mas não me entende,
o menino do jazz fala portugues e voce não o entende.
a gente fala a mesma lingua?
A gente fala?
com o que voce se comunica?
com quem voce se comunica?
de que lado do mundo esta seu pai ?
e o ventre que te pariu onde esta?
Voce tem irmãos aqui?
E o seu grande amor ja partiu?
Ou ainda nem chegou.
A venezuelana falou semana passada
"Que aqui não dá por mais tempo. Que aqui voce enlouquece "
Aqui o "where are you from"
Vem antes do "whats your name"
E “when do you go back?”
Vem logo depois de “how long have you been here?”
So para não te deixar esquecer de onde voce veio
E que uma hora voce vai ter que ir menino
Aquela pessoa do “nice to meet you” de ontem
Vai embora amanhã
Vai pegar o trem porque mora na europa
Vai pegar o avião porque tem um oceano para atravessar
Vai pegar a mala e ainda pagar excesso de bagagem
mesmo deixando um monte de coisa para trás
Que bossa é essa?
Aquela pessoa do "nice to meet you" de ontem
Vai embora, mas vai levando voce
E voce vai levar o que?
London tem big eyes
E ele ve o mundo girar
E se não vierem me chamar
Eu fico.

Monday, 2 February 2009

London London 02.02.2009

ABAIXO o que foi manchete da BBC

"The worst snowfall to hit the country in 18 years caused travel chaos on the roads and railways and closed scores of schools.
All bus services in London were cancelled, as were dozens of trains, and some airport runways, including both at Heathrow, were temporarily closed.
Helen Chivers, a forecaster with the Met Office, said the last time the UK saw such widespread snowfall was in February 1991. "And we're going to get more," she said. "There are a lot of showers still coming in from the North Sea."
Britain gripped by big freeze
The forecaster added that a large area of sleet and snow showers was also moving out of France and heading to the UK. A spokesman for the Highways Agency said: "If your journey is not essential I would strongly advise you don't make it."
Commuters in the south-east faced a miserable journey to work with chaos on the roads and railways. All London bus services were withdrawn and 10 of the 11 lines on the London Underground were either completely or partly suspended.
Latest travel news
A number of train services linking London and the south coast were also delayed or cancelled as snow drifted on to the tracks. Gatwick Airport and London City Airport were both temporarily shut on Sunday night as their runways were de-iced.
Snow and ice were blamed when an aircraft slipped off the taxiway and on to the grass at Heathrow airport. A BAA spokeswoman said no one was injured in the incident involving a Cyprus Air aircraft.
The snow also put the NHS under pressure, leading to operations being cancelled and a rise in the number of 999 calls. All non-urgent operations and admissions at Guy's and St Thomas's NHS Foundation Trust were cancelled and people were urged to stay away unless it was an emergency.
Many schools in the south east have closed due to the weather. A spokeswoman for Westminster Council said some of its schools were closed and the weather had forced the closure of more than 50 schools in Kent.
More than 50 schools in Birmingham and the Black Country were forced to close. Around 400 schools in Essex were closed, about three quarters of the schools in the county. "

guardando as devidas proporções e sem desconsiderar os efeitos ...

HÁ PESSOAS QUE ENXERGAM O COPO MEIO VAZIO

E HÁ AS QUE ENXERGAM O COPO MEIO CHEIO...

França das tradições











Para falar da França poderia começar com todos os pré-conceitos, uma vez que a maioria deles todos já ouvimos ao menos uma vez.

Mas escreverei não sobre a França que me apresentaram (para não dizer preveniram) antes da minha viagem, falarei sobre a França revelada pelos franceses.

Sem falar a língua local (so sorry! - quero dizer – pardon!) iniciava meu contato com um timido “Je ne parle pas français”. Eles então sorriam e tentavam estabelecer a comunicação da melhor forma possível, uma língua comum para ambos, mímica, ajuda dos universitários...

Sim. Eles aceitavam a comunicação sem impor sua língua. Por vezes até sentiam-se constrangidos por não falarem inglês – a tal da língua “universal”.

Sim. Os franceses que conheci não negam sua latinidade. Falam muito, gesticulam, riem alto.

Oui, eles beijam-se e acariciam-se publicamente e se enervam também, de uma forma que só os franceses são capazes. Eles rodam a bahiana, só que com outro sotaque. Eles batem e não assopram.

Não, eles não abrançam. Não podemos esquecer que eles também fazem parte da comunidade européia. Abraçar por essas bandas parece ser algo intimo demais, atribuido apenas aos amantes na alcova.

Não. Eles não são iguais. Os de Marseille, onde estive por dez dias, se dizem muito mais calorosos do que os de Paris, onde estive apenas por dois dias. Um despeito interestadual, algo como Rio e São Paulo...”reserva de mercado” não justificada. Afinal, no passaporte são todos franceses. Afinal as diferenças não fazem com que um seja necessariamente melhor ou pior que o outro. Uns têm sol e porto, outros têm torre e Monalisa.

Despeço-me de Marseille, de uma forma diferente da que fui recebida. Minha anfitriã acompanha-me à estação e fica comigo até a partida do trem, numa manhã fria e recheada de imprevistos. Quase Natal.

Vou ao encontro de minha outra anfitriã - esta radicada no Brasil, praticamente uma brasileira - que me apresentará a região de Chambon, das montanhas, das tradições. Somos recebidas por longas tranças prateadas. Participo de um Natal em família. Entramos numa região de contos. Tudo tem uma história – o vinho, as treze sobremesas, a Champanhe (e tenham respeito por ela), a casa ao lado, os quadros na parede, o banquinho que esperava por um piano que um dia chegou, as taças que esperavam por um bar da sala que espera por uma calefação que funcione. As longas tranças prateadas talvez guardem, em cada fio, as histórias mais preciosas. As longas tranças incansáveis. As longas e atenciosas tranças prateadas que nomeou-me Madame Vaisselle após reconhecer meu potencial na cozinha.

E é nessa região que encontro dois pequenos, que mais interessados estão em ouvir histórias que em conta-las, e se elas vêem de terras distantes, como o Brasil, ainda melhor. Esta é uma palavra mágica para eles. Minha anfitriã criou no imaginário dos pequenos um universo mágico chamado Brasil, com florestas e seres dignos de quadrinhos, onde o sol se esconde quando despede-se de lá.

E foi a França que me apresentou a neve. Sou acordada com o olhar curioso da casa e a expectativa ante minha reação. A neve quando pisada faz “scronch”. A neve que não vi quando criança, da qual só soube da existência através dos filmes norte-americanos trouxe nostalgia e junto com ela SAUDADE. Não era vontade de estar longe de lá, mas de estar perto de todos e que todos estivessem lá também. A neve não nos congela, a indiferença sim. E naquele lugar nada é indiferente.

No Reveillon todas as pessoas que conheci na vila reuniram-se em uma única casa, casa de “marseilleises”. Todos os convidados ofereceram um prato para a ceia e fui intimada a levar uma sobremesa típica brasileira: brigadeiro (?????!!!!!!!!)

Para minha supresa brigadeiro não é um doce universal, não faz parte da infância de todas as crianças do planeta. Uns têm neve, outros brigadeiro.

Para surpresa deles, nós usamos branco.
Para minha surpresa não há abraços após as doze badaladas, mas três beijos no rosto. Para surpresa deles, nós pulamos ondinhas.
Para minha surpresa nenhum estouro de rojão...apenas o ruído da Champanhe sendo aberta.
E a noite termina com todos sentados em frente à lareira, tomando café.

Não há música, não apenas para minha surpresa, pois a longa trança prateada confidencia-me “festa sem música, não é festa”. Concordo com ela, sorrimos com cumplicidade. Para nós a noite terminou. Voltamos para casa, com lanternas em punhos num ano que já é outro. Na primeira manhã de 2009 – SOL!!!!
Obrigada universo!!!!
Ele em harmonia perfeita com a neve que havia nos visitado no dia anterior.

Minha viagem à Provance está quase no fim. Separo-ro de minha anfitriã, eu em direção à Paris e ela a caminho da Índia.

Sou levada à estação de trem pelo poeta socialista. Ele falou durante todo o trajeto. E eu compreendi tudo. Eu sem falar francês, e ele sem falar português.

Em Paris sou recebida por uma vietnamita que conheci em Londres. Ela me recebe como uma brasileira receberia, vai me buscar na estação e à noite me leva a um restaurante tailandês. O amigo que a acompanha, e que trabalha como motorista, revelou que brasileiro tem fama de carregar grandes bagagens e não dar gorjeta.

No dia seguinte ela leva-me ao Louvre e à Torre Eiffel. Reitera a fama de que os franceses são indelicados. No metrô ela se surpreende com uma moça que lhe oferece um lenço. Não sabemos a nacionalidade dela. Prosseguimos.

A estada em Paris não foi o bastante para revelar Paris, mas, na manhã seguinte, indo para o aeroporto, assim que me aproximo da primeira escadaria do metrô, com minha grande mala de brasileira, uma moça se oferece para me ajudar. Dirijo-me ao guichê, despeço-me dela, compro meu bilhete e novamente outra escadaria. Um rapaz, mesmo apressado, ajuda-me a descê-la e ao final arremessa-se dentro do trem para não perde-lo. E a história se repete em outras escadarias até conseguir sair do metrô e livrar-me delas.

Esta foi minha experiência em Paris. Onde esconderam toda a indelicadeza francesa ainda não sei. Pessoas são diferentes em Marseille, em Paris, no Rio, em São Paulo, em Londres, mas continuam sendo pessoas.

Indo à França diga ao menos Merci!, por uma simples questão de gentileza.

E para os que acreditam que o inglês é a língua universal -so sorry1 - O sorriso é a língua universal. Gentileza gera gentileza.