e não é quando a gente se distrai que a vida acontece?
foi assim que ela se apaixonou por ele.
num final de tarde,
ela que habitualmente vivia olhando para o chão na captura de seus pensamentos que insistiam em se esparramar pelo passeio, naquele fim de tarde reparou em algo que até então não havia notado, sua pele estava mudando de cor, mas sabia que não era exatamente sua pele que mudara, ela apenas refletia uma outra mudança...
dizem que mudanças refletem algo, dizem...não sei, só ouvi falar.
ela então mudou a direção do olhar a procura do que provocara aquele efeito, foi quando o viu pela primeira vez...
ele perdido no horizonte, sozinho, calmo, foi se despedindo dela como se a conhecesse, ia não querendo ir.
após alguns minutos de contemplação ele se foi. Seu brilho saiu da pele dela.
Ela agora não olhava mais para o chão, porque seus pensamentos estavam naquele horizonte.
Estava perdida, perdidamente apaixonada.
Nunca entendi a contradição de juntar na mesma expressão as palavras "perdidamente" e "apaixonada".
Quem se apaixonada não se encontra mais? Não encontra o outro? Perde o que afinal?
Só sei que ela assim estava, e por isso voltou lá no dia seguinte, e no outro também, e todas as tardes naquele mesmo horário eles pontualmlente se despediam.
Ela então telepaticamente se comunicou com um grande amigo que morava bem do outro lado de lá, contando toda a sua história de amor revelou que todos os dias eles se encontravam, que ele vivia para o seu olhar e ela irradiava quando o encontrava. Que todas as tardes ele se recolhia cedo para estar pronto para ela na manhã seguinte.
Seu amigo sem querer "tapar o sol com a peneira" foi honesto, e tentando não magoa-la lhe disse que ele sempre no mesmo horário aparecia pelos lado de lá, por isso todas as tardes ele tinha que se despedir dela.
Ela ficou magoada. Sentiu um gosto amargo na boca, uma pontada no peito e um torcer no estômago, mas lembrou que nunca trocaram palavra. Que tudo que sabia dele, ela mesmo imaginara ao sabor de sua admiração. Nada foi prometido, nada foi combinado.
Seu amigo sentiu-se a vontade também para revelar a sua grande paixão. Ele disse que se apaixonou quando estava distraído com uma borboleta que cambaleava e desde então passavam quase todas as noites juntos. Que por vezes ela se revelava completamente, e em outras ocasiões apenas se insinuava, não aparecia por algumas noites e não mandava recado, mas isso não era um problema, porque ela sempre voltava. E finalizou a comunicação dizendo "acabamos de nos despedir, ela vai repousar para me encontrar amanhã". Ouvindo aquilo, a amiga olhou para o horizonte e a reconheceu, preferiu não dizer a ele que sempre que se despedia dele, ela também não se recolhia...achou melhor acabar a conversa com apenas a sua desilusão, mas passou a noite inteira espionando para descobrir com quem ela se encontrava nos lados de cá.
PS.: AGORA VOLTE E VEJA O VIDEO INTEIRO, de preferência com uma música que goste muito.
Marseille Dec. 2008 - Paris Jan.2009
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