Saturday 31 October 2009

Maria - mais uma personagem da vida real



E a história começa assim: voltando para Londres, desta vez apenas por alguns dias. Agenda programada, apresentação de projeto para fazer. Tudo claro, objetivo, programado...mas o que nessa vida pode-se dizer que efetivamente foi programado?

Tudo está por ser, tornar-se, encontrar-se, completar-se, tropeçar-se, cair-se...

Além de uma câmera de vídeo ganho do casal, Elvira/Fábio, uma carona até o aeroporto. Obrigada!!!! Acho que eles esperam um registro melhor do que o da primeira viagem. Espero corresponder.

Novamente no aeroporto sozinha, preparada para mais um vôo internacional. Aeroporto tem a mesma energia de hospital: enquanto uns comemoram chegadas, outros tristes, lamentam despedidas. Em alguns a mesma tensão, a mesma expectativa. Hospital e aeroporto não é um lugar para se estar sozinha. Mas como diz a lenda, eu apenas de passagem...

Aproxima-se de mim Maria, me faz uma pergunta e daí iniciamos aquela conversa trivial que pessoas desconhecidas travam quando estão juntas em um ambiente onde não se tem para onde ir. Estávamos na fila de espera para o embarque.

Fila: lugar perfeito, em essência, para se estabelecer contatos imediatos.

E olha que brincadeira interessante do universo, num avião com trezentos e tantos assentos, a pessoa que fica ao meu lado na fila é a mesma que irá me acompanhar durante todo o vôo. Minha poltrona 20B e a dela 20C.

Eba!!! Estou começando a gostar da viagem.

Maria mostra seu passaporte chileno. Revela que tem um britânico, mas quando passa pelo Brasil mostra o chileno e quando chega ao Reino Unido, usa o inglês. Ou seja, cidadã do mundo, com entrada garantida lá e cá. Na verdade ela só precisou passar por terras tupiniquins porque no Chile não há vôo direto para Londres.

Maria está em seu segundo casamento. Seu atual marido é chileno mas mora na Inglaterra há muitos anos. O encontro dos dois se deu quando ele passou pelo Chile de férias. Deu-se o encontro e depois dele algumas tantas despedidas e talvez muitas idas ao aeroporto. Mas como o bom encontro é de dois quando ele acontece não há aeroporto que separe.

Eles se casaram e ele voltou para a Inglaterra sem ela, mas todo ano, em suas férias, ele retornava ao seu país para vê-la. E assim passaram-se treze anos!!!! Até que um dia, quando tudo estava favorável, Maria foi ao aeroporto, com seus três filhos, do casamento anterior, mas dessa vez foi não para despedir-se dele, mas do seu país. Junto com seu amor, foi para a terra da Rainha deixando para trás seu Chile do coração.


Maria é uma entre tantas outras que prefere lidar com a saudade do que com as limitações de uma vida sem perspectiva. Ela me disse: o Chile é igual ao Brasil, não se consegue viver bem lá, ter o que se deseja, estudar...E por falar em estudar, este item na cesta básica da Maria é gênero de primeira necessidade. Ela terminou recentemente sua graduação, e o fez na mesma classe, no mesmo curso de suas duas filhas. Família que estuda unida... deve aprender alguma coisa.

Maria estava no Chile de férias, lá passou um mês. Tem saudades, pensa em voltar, mas por enquanto sua terra continua sendo a mesma de Elisabeth. E ela é recebida no aeroporto por sua filha, que com lágrimas nos olhos a abraça. Mas as lágrimas de sua filha são as mesmas daqueles que estão no hospital e recebem a noticia que o parto terminou, que a criança nasceu e passa bem. As lágrimas de sua filha são lágrimas daqueles que esperam os que são aguardados. Que sejam bem vindas as Marias assim como as Helenas*.


* ontem recebi e-mail da Maysa, companheira atriz/escritora, dizendo que pariu a pequena Helena.

2 comments:

  1. parabéns pela sensibildade!
    Marcos Ferreira
    musicaferreira@gmail.com

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  2. Jhaíra, Que sensibilidade captar a história de Maria. Parabéns! Precebi que voce era especial em nosso encontro meteórico no Favela Chic há duas noites. Estou feliz, pois entrei no blog na tentativa de ter notícias de seu amigo japonês e descobri o quanto voce é especial. Tomara que a gente ainda se encontre muitas vezes. Se puder vá ao concerto na terça. beijos, Marcos Ferreira - musicaferreira@gmail.com

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