Quando eu era "mais menina" (muita gente acha que ainda sou) costumava enviar cartas ao Papai Noel. Por ser uma boa garota (muita gente acha que nunca fui), ficava esperando que ele atendesse meu pedido.
Meu pedido era sempre o mesmo: quero conhecer sua terra.
Todo ano a mesma coisa, todo ano escrevendo e nada de ser atendida.
O tempo foi passando, e eu esquecendo do que pedia. Parei de escrever para Papai Noel. Mas a pratica foi tanta, que passei das cartas para os contos e derivados. Passei a escrever sem destinatário. Talvez, inconscientemente, esta tenha sido a forma que encontrei para operar sobre a expectativa. Porque se não endereço o que escrevo, serve a qualquer um e a ninguém.
Mas nunca se sabe o suficiente, precisava afinar meu instrumento. Cursos e mais cursos ...até que em um deles, disfarçado de professor, lá está ele: Papai Noel.
Meu ímpeto foi de virar para a colega ao lado e perguntar: É o Papai Noel, não é?. Mas quando olhei para ela, vi que ela já não era mais menina, e lembrei que eu também não. Naquela turma de escritores emergentes, não deveria deixar que meu entusiasmo* manchasse a boa impressão que deveriam ter de mim.
Mas eu o reconheci, e sabia que ele também nos reconhecia, que lembrava em detalhes cada linha das nossas cartinhas da infância. E ali, todos juntos, ele somente pedia que escrevêssemos mais e mais. Depois ele recolhia tudo e guardava. O que será que ele quer agora? Reconhecer nossas letras? Reler nossos desejos?
Ele voltou para sua terra sem conseguir se despedir. Deixou um grande abraço a todos e também seu e-mail. Tempos modernos!
Muito bem. Vou escrever um e-mail então. Talvez ele não tenha recebido minhas cartas, mas se não receber o e-mail pelo menos terei um “Undeliverable mail”.
Desta vez Papai Noel respondeu.
- Papai Noel to indo. – eu disse
- Venha. –ele respondeu
Venha?
Simples assim?
Então a elaboração das cartas anteriores estava errada. Deveria trocar o “eu desejo”, “eu gostaria” pelo “eu vou”, “estou aqui”. Ser mais afirmativa.
Fui. E lá estava ele de braços apertos me recebendo, me orientando, cuidando.
Apontando caminhos e pessoas sempre com a recomendação: Diga que eu estou enviando você. Ele era tão querido, que todos me recebiam como se eu fosse a própria filha de Noel, que era quase o mesmo que ser filha do rei, ou melhor, da rainha.
Vez ou outra certificava-se: como está? Está bem acomodada? Precisando de algo?
O meu tempo na terra de Noel estava chegando ao fim. Também retornei sem conseguir me despedir pessoalmente.
Já em casa, retornei ao contato escrito, agora por e-mail.
Depois de uns meses, um dos seus veio visitar as terras de cá. Michael chama-se. Que também conheci por lá, seguindo recomendações de Papai Noel. Michael revelou, que quando me viu na fábrica de sonhos (também conhecida por sala de ensaio) incomodou-se com minha presença, mas ao saber que era uma enviada de Papai Noel, pensou: : “Seja bem vinda.” Perguntei sobre Papai Noel, que agora não respondia também meus e-mails. Michael disse que na verdade ele sempre preferiu as cartas, e que atualmente não via mais e-mails. Aconselhou-me a enviar uma.
Não o fiz de pronto. Foi quando nesta semana recebo um e-mail dizendo “Lembra-se da carta que pedi que escrevesse a Papai Noel? Acho que é um bom momento para enviar.”
Entendi a mensagem, e junto com a missiva queria enviar também um livro que ajudei a escrever e que será lançado este mês. Quando descobri que não estaria pronto esta semana decidi enviar apenas a carta. Hoje.
E foi hoje também que recebi outro e-mail. Dizendo que não preciso mais me preocupar com a carta. Papai Noel se foi. Foi para um lugar aonde as mensagens não chegam via correio. Foi descansar dos pedidos, das expectativas.
Papai Noel foi sem minha ultima carta. Nela eu só queria dizer THANK YOU!!!
Mas achei pouco. Queria enviar mais. Não deu tempo.
Hoje, penso que se antes da minha partida recebesse uma carta com essa única frase, iria certamente sorrindo.
Porque às vezes a gente acha que não faz diferença nenhuma.
Meu pedido era sempre o mesmo: quero conhecer sua terra.
Todo ano a mesma coisa, todo ano escrevendo e nada de ser atendida.
O tempo foi passando, e eu esquecendo do que pedia. Parei de escrever para Papai Noel. Mas a pratica foi tanta, que passei das cartas para os contos e derivados. Passei a escrever sem destinatário. Talvez, inconscientemente, esta tenha sido a forma que encontrei para operar sobre a expectativa. Porque se não endereço o que escrevo, serve a qualquer um e a ninguém.
Mas nunca se sabe o suficiente, precisava afinar meu instrumento. Cursos e mais cursos ...até que em um deles, disfarçado de professor, lá está ele: Papai Noel.
Meu ímpeto foi de virar para a colega ao lado e perguntar: É o Papai Noel, não é?. Mas quando olhei para ela, vi que ela já não era mais menina, e lembrei que eu também não. Naquela turma de escritores emergentes, não deveria deixar que meu entusiasmo* manchasse a boa impressão que deveriam ter de mim.
Mas eu o reconheci, e sabia que ele também nos reconhecia, que lembrava em detalhes cada linha das nossas cartinhas da infância. E ali, todos juntos, ele somente pedia que escrevêssemos mais e mais. Depois ele recolhia tudo e guardava. O que será que ele quer agora? Reconhecer nossas letras? Reler nossos desejos?
Ele voltou para sua terra sem conseguir se despedir. Deixou um grande abraço a todos e também seu e-mail. Tempos modernos!
Muito bem. Vou escrever um e-mail então. Talvez ele não tenha recebido minhas cartas, mas se não receber o e-mail pelo menos terei um “Undeliverable mail”.
Desta vez Papai Noel respondeu.
- Papai Noel to indo. – eu disse
- Venha. –ele respondeu
Venha?
Simples assim?
Então a elaboração das cartas anteriores estava errada. Deveria trocar o “eu desejo”, “eu gostaria” pelo “eu vou”, “estou aqui”. Ser mais afirmativa.
Fui. E lá estava ele de braços apertos me recebendo, me orientando, cuidando.
Apontando caminhos e pessoas sempre com a recomendação: Diga que eu estou enviando você. Ele era tão querido, que todos me recebiam como se eu fosse a própria filha de Noel, que era quase o mesmo que ser filha do rei, ou melhor, da rainha.
Vez ou outra certificava-se: como está? Está bem acomodada? Precisando de algo?
O meu tempo na terra de Noel estava chegando ao fim. Também retornei sem conseguir me despedir pessoalmente.
Já em casa, retornei ao contato escrito, agora por e-mail.
Depois de uns meses, um dos seus veio visitar as terras de cá. Michael chama-se. Que também conheci por lá, seguindo recomendações de Papai Noel. Michael revelou, que quando me viu na fábrica de sonhos (também conhecida por sala de ensaio) incomodou-se com minha presença, mas ao saber que era uma enviada de Papai Noel, pensou: : “Seja bem vinda.” Perguntei sobre Papai Noel, que agora não respondia também meus e-mails. Michael disse que na verdade ele sempre preferiu as cartas, e que atualmente não via mais e-mails. Aconselhou-me a enviar uma.
Não o fiz de pronto. Foi quando nesta semana recebo um e-mail dizendo “Lembra-se da carta que pedi que escrevesse a Papai Noel? Acho que é um bom momento para enviar.”
Entendi a mensagem, e junto com a missiva queria enviar também um livro que ajudei a escrever e que será lançado este mês. Quando descobri que não estaria pronto esta semana decidi enviar apenas a carta. Hoje.
E foi hoje também que recebi outro e-mail. Dizendo que não preciso mais me preocupar com a carta. Papai Noel se foi. Foi para um lugar aonde as mensagens não chegam via correio. Foi descansar dos pedidos, das expectativas.
Papai Noel foi sem minha ultima carta. Nela eu só queria dizer THANK YOU!!!
Mas achei pouco. Queria enviar mais. Não deu tempo.
Hoje, penso que se antes da minha partida recebesse uma carta com essa única frase, iria certamente sorrindo.
Porque às vezes a gente acha que não faz diferença nenhuma.
Papai Noel, obrigada!!! Fez toda a diferença.
A carta que escrevo hoje não é pra você, mas por você.
A carta que escrevo hoje não é pra você, mas por você.
Hoje 09/09/2009
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outro post que escrevi sobre ele e a viagem http://jhairas.blogspot.com/2009/02/destino-london.html
about Noel http://www.writewords.org.uk/interviews/noel_greig.asp
* ter Deus dentro da gente
about Noel http://www.writewords.org.uk/interviews/noel_greig.asp
* ter Deus dentro da gente
Querida foi minha sua dor. A você e a seu papai Noel uma boa dose de ternura e compreensão. Uma doce passagem à ele porque foi pra viagem definitiva e a ti porque tão especial é ser um ser que pode estar nos doces cuidados de Noel, papai, sinto muito, não fique triste pela carta material, pois, a espiritual já estava com ele, com certeza, essa chegou, assim de pronto, no momento em que pensaste em escrever. Carinho, gi
ReplyDeleteQtos anjos ou Noeis não passam por nossa vida e qtas vezes também não somos.
ReplyDeleteSem dúvida ele sabe do deu agradecimento.
Bjs.
Eu, querida Jha, desencantei-me muito cedo com Papai Noel. Mas, passado o tempo, reconheci a minha bobagem. Restou-me vê-lo com outros olhos. E pelos olhos dos outros. Assim, pelos teus olhos, é tão cortante, que é doce. E quedo-me infantil. Obrigado pelos natais e parabéns pela linda elaboração da perda. Afinal, resta-nos o afeto, uma esperança sem fim nem preço. Receba o meu, com um beijo. Nelson
ReplyDelete"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...", todavia, somente hoje me veio a certeza de que somos. Basta acreditar.
ReplyDeleteJhaíra, vc me fez repensar meus natais. Papai Noel existe, e ele esteve conosco. E não me resta dúvida: O NATAL NÃO OCORRE SÓ EM DEZEMBRO. OCORRE QUANDO ESTAMOS PREPARADOS PARA O PRESENTE.
Seu obrigado foi dito no toque, no olhar, no sorriso, nos tantos gestos...
Lindo texto, linda menina, linda história de vida e de eternidade!
Papai Noel Greig está nos presenteando com este encontro.
Bjs.
Muito obrigado.
João D'Olyveira
What beautiful words to write to remember your friend, who has clearly been very important in your life. You have immortalised him in your story, which is the greatest gift you could have given him.
ReplyDeleteI love your words and your truth. Keep them coming xxx
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ReplyDelete...
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Rimã queridaaaa!!!
(hj sinto assim...depois q crescemos rsrs )
Não sabo escrever lindo assim . Mas vc não sabe o imenso orgulho q sinto...qdo leio vc
Ler vc é fascinante, emocionante.
Obrigada por escrever.
Ass. A irmã da Jhaira com acento.