- Faz brigadeiro que é um prato que ninguém conhece aqui.
Fui tomada por um misto de perplexidade e comiseração. Como terá sido a infância das pessoas daquele vilarejo sem brigadeiro nas festas de aniversário???!!!!! Qual a vantagem de se ter nascido no primeiro mundo, se quem está no terceiro é que ganha o prêmio?
Uma fotografia da festa de aniversário da minha irmã mais nova, registra a minha face com um sorriso maroto de quem aprontou alguma travessura, e um bom observador pode ver a tal travessura se olhar atentamente...uma bandeja inteira de brigadeiro escondida embaixo da tábua do bolo. Apenas eu e meus cúmplices compartilharíamos daquilo que passei a tarde inteira preparando, enquanto planejava o seu desaparecimento.
- Você nunca viu neve?!!!! Perguntaram-me do lado de lá. – Nunca ficou esperando para vê-la cair, e na manhã seguinte saiu correndo para ouvir o barulho dos próprios passos nela?
Recebi o mesmo olhar de comiseração que havia ofertado momentos antes.
Tudo bem. Eu cresci sem neve e você sem brigadeiro. Está certo. Ainda assim fomos crianças felizes. Crianças normais, sem crise. Você por não saber o gosto que o doce tem e eu por não imaginar a textura da chuva congelada.
Mas e agora que crescemos e fomos apresentados um para o outro. Agora que conhecemos a delícia de cada um, é possível viver sem?
Também cresci sem diferenciar as mudanças das quatro estações, para mim ou é quente ou frio, chove ou faz sol. Não me acostumei a ver as árvores do meu dia a dia sem folhas. Elas são verdes o ano inteiro e estão lá. Não aprendi a viver com a sua ausência.
Você tem o olhar educado para vê-las secas, tem a paciência de vê-las florir, se acostumou a suportar o frio das noites e dias, e espera ansiosamente o calor do sol, que nem sempre aquece.
Enquanto a gente desconhece não sabe a falta que faz.
Enquanto a gente não conhece, passa bem.
A ignorância domestica a alma.
Com a responsabilidade daquele que cativa, não deixei apenas o gosto da lembrança na boca, porque sei que ele pode amargar.
Despedi-me do vilarejo deixando a receita do doce. As próximas gerações de crianças daquele lugar crescerão com a neve e com o brigadeiro.
Para as crianças daqui não pude trazer a neve, mas sei o caminho, e direi aonde elas podem encontrar.
E quanto a mim que cresci sem, fica a lembrança, fica a saudade, fica o gosto de querer voltar.
A neve se instalou no coração,
mas aqui o sol brilha o ano inteiro.
Só conheço o inverno e verão...
verão, verão.....
Doce é o sabor do brigadeiro!!!!!
1. Brigadeiro na colher - niver da Raja São Paulo-Brasil 2009
2. Brigadeiro na forminha - despedida de Londres -Inglaterra 2009
3. Brigadeiro na Bandeja - reveillon em Chambon- França 2008-09
Fui tomada por um misto de perplexidade e comiseração. Como terá sido a infância das pessoas daquele vilarejo sem brigadeiro nas festas de aniversário???!!!!! Qual a vantagem de se ter nascido no primeiro mundo, se quem está no terceiro é que ganha o prêmio?
Uma fotografia da festa de aniversário da minha irmã mais nova, registra a minha face com um sorriso maroto de quem aprontou alguma travessura, e um bom observador pode ver a tal travessura se olhar atentamente...uma bandeja inteira de brigadeiro escondida embaixo da tábua do bolo. Apenas eu e meus cúmplices compartilharíamos daquilo que passei a tarde inteira preparando, enquanto planejava o seu desaparecimento.
- Você nunca viu neve?!!!! Perguntaram-me do lado de lá. – Nunca ficou esperando para vê-la cair, e na manhã seguinte saiu correndo para ouvir o barulho dos próprios passos nela?
Recebi o mesmo olhar de comiseração que havia ofertado momentos antes.
Tudo bem. Eu cresci sem neve e você sem brigadeiro. Está certo. Ainda assim fomos crianças felizes. Crianças normais, sem crise. Você por não saber o gosto que o doce tem e eu por não imaginar a textura da chuva congelada.
Mas e agora que crescemos e fomos apresentados um para o outro. Agora que conhecemos a delícia de cada um, é possível viver sem?
Também cresci sem diferenciar as mudanças das quatro estações, para mim ou é quente ou frio, chove ou faz sol. Não me acostumei a ver as árvores do meu dia a dia sem folhas. Elas são verdes o ano inteiro e estão lá. Não aprendi a viver com a sua ausência.
Você tem o olhar educado para vê-las secas, tem a paciência de vê-las florir, se acostumou a suportar o frio das noites e dias, e espera ansiosamente o calor do sol, que nem sempre aquece.
Enquanto a gente desconhece não sabe a falta que faz.
Enquanto a gente não conhece, passa bem.
A ignorância domestica a alma.
Com a responsabilidade daquele que cativa, não deixei apenas o gosto da lembrança na boca, porque sei que ele pode amargar.
Despedi-me do vilarejo deixando a receita do doce. As próximas gerações de crianças daquele lugar crescerão com a neve e com o brigadeiro.
Para as crianças daqui não pude trazer a neve, mas sei o caminho, e direi aonde elas podem encontrar.
E quanto a mim que cresci sem, fica a lembrança, fica a saudade, fica o gosto de querer voltar.
A neve se instalou no coração,
mas aqui o sol brilha o ano inteiro.
Só conheço o inverno e verão...
verão, verão.....
Doce é o sabor do brigadeiro!!!!!
1. Brigadeiro na colher - niver da Raja São Paulo-Brasil 2009
2. Brigadeiro na forminha - despedida de Londres -Inglaterra 2009
3. Brigadeiro na Bandeja - reveillon em Chambon- França 2008-09
Tamb'em quero!!
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